A dança entre a vida e a Terra

Por Fabrício Caxito

Estamos acostumados a pensar no nosso planeta como uma bola de gude azul manchada por nuvens brancas flutuando no espaço, como nas imagens fantásticas da era da exploração espacial. Mas a Terra nem sempre teve esse aspecto que reconhecemos como tão amigável. Em seus 4,5 bilhões de anos de idade, nosso planeta já mudou de cara várias vezes.

Vale a pena colocarmos esse número em perspectiva. Uma das ferramentas visuais mais utilizadas neste sentido é o chamado calendário cósmico, popularizado pelo cientista nova-iorquino Carl Sagan, que comprime toda a história do Universo no espaço de um ano, com o Big Bang acontecendo à meia noite do dia primeiro de janeiro. Neste calendário, a Terra, junto com o sistema solar, só surge no dia 09 de setembro.

Modificado de Wikimedia Commons (https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cosmic_Calendar_No_Text.png; File:Rodinia_900Ma.jpg; File:Sponges_in_Caribbean_Sea,_Cayman_Islands.jpg; File:Everest_North_Face_toward_Base_Camp_Tibet_Luca_Galuzzi_2006.jpg; File:Mollweide_projection_SW.jpg; File:Pliomerops_escoti_(Bergeron_1895)_St_Chinian2.jpg; 640px-DickinsoniaCostata.jpg; File:Gondwana_420_Ma.png; File:Snowball.gif; File:The_Earth_seen_from_Apollo_17.jpg; File:Cyanobacteria.jpg; File:Cyphoderia_ampulla_-_Testate_amoeba_-_160x_(14997391862).jpg; File:Coccosteus-Paleozoological_Museum_of_China.jpg; File:Cordulagomphus_01.JPG), Museu Nacional Tcheco (Cooksonia) e JPL/NASA Goddard Space Center/Francis Reddy (https://apod.nasa.gov/apod/ap140805.html, https://www.nasa.gov/feature/goddard/2017/nasa-team-looks-to-ancient-earth-first-to-study-hazy-exoplanets)

Um extraterrestre que avistasse o planeta até meados de outubro encontraria uma visão bem diferente. Ele provavelmente veria um mundo coberto por nuvens alaranjadas de metano geradas pela atividade vulcânica intensa em um planeta muito mais quente, cobrindo oceanos esverdeados devido à grande concentração de ferro dissolvido. Em um dos melhores exemplos de interação entre a vida e o planeta, o surgimento e a proliferação das cianobactérias e o produto colateral de sua fotossíntese, o oxigênio, limpou os oceanos ao reagir com os metais solúveis resultando em compostos insolúveis que desceram para o fundo do mar gerando os depósitos de ferro e manganês explorados atualmente, e reagiu com o metano e outros elementos mudando para sempre a composição química e a cara da nossa atmosfera.

O Sol, nossa fonte de calor e energia, também evoluiu com o tempo: estima-se que ele só tinha cerca de 70% da sua força atual no começo. Com um Sol tão fraco, todos os cálculos indicam que a Terra deveria ter sido completamente congelada durante grande parte da sua história. Porém, o registro geológico indica que quase sempre provavelmente houve água líquida livre na superfície do planeta. Como isto é possível? A resposta está novamente no metano, um excelente gás de efeito estufa que manteve a Terra aquecida em seus primórdios, mas que foi prontamente destruído pelo oxigênio. O Grande Evento de Oxigenação, como é chamado o momento em que a produção de oxigênio pelas cianobactérias gerou um excedente capaz de enriquecer a atmosfera nesse gás, acabou por mergulhar a Terra em seu primeiro episódio de glaciação global, em um belíssimo exemplo de como organismos tão pequenos como cianobactérias podem regular o clima de um planeta inteiro – e mudar sua cara novamente, para uma “bola de neve” global. Felizmente, todo o delicado sistema natural acaba por se autorregular: a glaciação global não impediu os vulcões de continuarem a expelir gás carbônico e outros gases causadores de efeito estufa. Foi só uma questão de tempo até que estes gases acumulassem novamente a ponto de aumentar a temperatura global, derretendo as capas de gelo e reiniciando o ciclo.

A fotossíntese permitiu que as cianobactérias reinassem absolutas por bastante tempo sobre outros tipos de microorganismos que não possuíam proteção contra o venenoso oxigênio, um elemento extremamente reativo. Porém, a vida no planeta continuou dominada por organismos simples, em sua maioria unicelulares, até por volta do dia 14 de dezembro, há cerca de 600 milhões de anos atrás. Por que esta demora na aparição dos nossos próprios ramos da árvore da vida?

A atmosfera e os oceanos não atingiram sua concentração atual de oxigênio após o Grande Evento de Oxigenação. As estimativas mostram que possivelmente este gás permaneceu em cerca de 1% sua concentração atual na atmosfera durante toda a meia idade da Terra, o Éon Proterozoico, quando os oceanos foram dominados por outra composição química, rica em enxofre, gerando uma cor púrpura escura, devido aos pigmentos presentes nas bactérias que utilizam este elemento para sobreviver.

Como sair de um mundo púrpura com odor de ovo podre gerado pelo ácido sulfídrico do metabolismo das bactérias amantes do enxofre para o mundo que conhecemos? A resposta está no resfriamento contínuo do planeta, que como vimos, era bem mais quente em seus primórdios. A tectônica de placas esteve ativa possivelmente desde o Arqueano, mas o manto era ainda muito quente para permitir que grandes placas afundassem nas zonas de subducção sem que elas perdessem a coerência e se derretessem nas primeiras dezenas de quilômetros de profundidade. Ao final do Éon Proterozoico, porém, em meados de dezembro, o manto já havia resfriado o suficiente para que as placas conseguissem afundar até mais de cem quilômetros sem perder a coerência em zonas de colisão de placas. Uma das consequências é que o reajuste isostático – o mesmo efeito que faz com que a maior parte de um iceberg fique por baixo da água – criou cadeias de montanhas muito mais altas e longas do que aquelas que as precederam no tempo geológico.

Quanto mais alta uma cadeia de montanhas, mais rapidamente suas rochas são consumidas pelos efeitos do intemperismo. A grande quantidade de detritos gerada pelo desmonte de uma cadeia de montanhas causa o soterramento do carbono gerado pela biomassa marinha, não permitindo que este carbono reaja com o oxigênio para formar novo gás carbônico. O resultado é um novo aumento nos níveis de oxigênio, e este, além de reagir com o enxofre dos oceanos produzindo sulfatos, bem menos tóxicos para a vida em geral, engatilhou também a proliferação de formas de vida com alto gasto energético, que precisam deste gás em abundância para seu metabolismo.

São desta época os primeiros fósseis que indicam o surgimento de inovações biológicas como conchas e organismos capazes de se mover intensamente. Algumas destas conchas apresentam pequenos furos que deixam claro a sua função evolutiva: a proteção contra predadores. Estava iniciada a corrida de desenvolvimento pontuado que nos próximos quinze dias do calendário cósmico levaria a proliferação das formas mais complexas e diferentes de metazoários, os animais, dos quais fazemos parte. Somos descendentes diretos das montanhas e dos mares.

A Terra já foi uma bola de fogo incandescente no berço, um mundo de oceanos esverdeados e nuvens tóxicas alaranjadas, um mundo com oceanos púrpuras com cheiro de ovo podre, uma bola de neve por diversas vezes, até chegar à bola de gude azul que conhecemos hoje. Quem pintou todas estas cores e cenários foi a vida que habita em sua superfície. E, enquanto fazemos a contagem regressiva para os dez segundos antes do réveillon cósmico, uma outra espécie vem causando efeitos em todas as esferas terrestres em velocidades muito mais rápidas e assustadoras do que todas as discutidas anteriormente. Desde a revolução industrial, o ser humano vem adicionando carbono que estava guardado na biomassa soterrada pelos processos naturais à atmosfera, em taxas 31 mil por cento mais rápidas do que na última extinção em massa. Os efeitos catastróficos que mudanças bruscas no ciclo do carbono e outros elementos causaram na vida são visíveis no registro das rochas, mesmo em taxas dezenas de milhares de vezes mais lentas que as atuais. Cabe a nós enxergar os avisos e compreender que a vida – inclusive a vida humana – é intimamente ligada às rochas, à água e ao ar do nosso planeta e que mudanças em uma esfera causam invariavelmente mudanças em todas as outras esferas interligadas.

Fabrício Caxito é coordenador do Projeto MOBILE, filósofo e professor de Geologia na UFMG.

Goldilocks at the dawn of complex life: mountains might have damaged Ediacaran–Cambrian ecosystems and prompted an early Cambrian greenhouse world

The effects of mountain belts in supporting the conditions for the development of complex life forms in adjacent basins are warmly debated today. In this paper, MOBILE Project researchers show that, while mountains might provide oxygen and nutrients, if a sea basin becomes surrounded by mountains and completely restricted, this effect might become damaging to complex life. This is due to eutrophication, a phenomenon that occurs when an overburden of nutrients causes algal blooms that block the sunlight and consume all of the basin’s oxygen, restricting the conditions for complex, oxygen-dependant organisms. This effect is, thus, one of optimal conditions, or “Goldilocks”-type. Besides, restricted basins under anoxic conditions might have contributed with vast amounts of greenhouse gases such as methane, which might have caused the planet to overheat various times during it’s history. In the neoproterozoic-cambrian fan-like transition from Rodinia to Gondwana, while the newborn coasts of Laurentia, Baltica and Siberia remained open to the global sea, marginal basins of Gondwana were progressively landlocked. The extent to which those restricted basins damaged ediacaran-cambrian ecosystems and contributed to Earth’s climate needs to be further considered.

Download the full paper, open access here:

https://www.nature.com/articles/s41598-021-99526-z

Tonian island arc remnants in the northern Ribeira orogen of Western Gondwana: The Caxixe batholith (Espírito Santo, SE Brazil) – (Santiago et al. 2020)

Island arcs are magmatic arcs formed when oceanic tectonic plates slide below one another in subduction zone settings, just like in the present-day southwestern Pacific Ocean, as in Japan and Indonesia. Island arcs are important tectonic components to understand the evolution of the planet and consequently the continents and oceans that existed in the past.

The Serra da Prata magmatic arc, aged around 860 million years, is part of an association of several magmatic arcs of the Araçuaí – Ribeira Orogenic System (AROS) in southeastern Brazil. This system constitutes an extensive segment of a mountain range developed during the formation of the Gondwana supercontinent at 600-500 million years ago.

In this new article, we characterize the northernmost segment of the Serra da Prata arc, based on lithochemical data and isotopic analysis through radiogenic systems (Sm-Nd, Rb-Sr, U-Pb and Lu-Hf) from the Caxixe batholith, located in the south the Espírito Santo State, southeastern Brazil. The new data demonstrate a juvenile magmatic arc with striking mantle contribution, formed in an intra-oceanic subduction setting in the Adamastor paleo-ocean. The results allow us to reconstruct the paleogeography of the continental blocks and oceans which interacted to form the Brazilian and African geological substrate a long time ago.

Os arcos das ilhas são arcos magmáticos formados quando as placas tectônicas oceânicas deslizam uma abaixo da outra em configurações de zona de subducção, assim como atualmente no sudoeste do Oceano Pacífico, como no Japão e na Indonésia. Os arcos de ilhas são componentes tectônicos importantes para entender a evolução do planeta e, consequentemente, dos continentes e oceanos que existiram no passado.

O arco magmático Serra da Prata, com idade em torno de 860 milhões de anos, faz parte de uma associação de vários arcos magmáticos do Sistema Orogênico Araçuaí – Ribeira (AROS) no sudeste do Brasil. Este sistema constitui um extenso segmento de uma cordilheira desenvolvida durante a formação do supercontinente Gondwana em 600-500 milhões de anos atrás.

Neste novo artigo, caracterizamos o segmento mais ao norte do arco da Serra da Prata, com base em dados litoquímicos e análise isotópica através de sistemas radiogênicos (Sm-Nd, Rb-Sr, U-Pb e Lu-Hf) do batólito de Caxixe, localizado no sul do Estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Os novos dados demonstram um arco magmático juvenil com notável contribuição do manto, formado em uma configuração de subducção intra-oceânica no paleo-oceano Adamastor. Os resultados nos permitem reconstruir a paleogeografia dos blocos continentais e oceanos que interagiram para formar o substrato geológico brasileiro e africano há muito tempo.


Free download before December 06, 2020, by clicking on the link below:https://authors.elsevier.com/a/1bwEf14fdGtrcv

Qual a relação entre biodiversidade e o ambiente tectônico? What is the relation between biodiversity and the geological setting?

The Ordovician radiation was one of the most significant diversifications of marine life and it coincides with a time of intense orogenic activity. The geographic distribution of 6576 appearances of Ordovician genera was investigated, in order to understand the relation among biodiversity and the geological context (foreland basins, transition zones, and carbonates platforms). The result shows that the most expressive genera of the time – trilobites, brachiopods, bivalves, gastropods, etc. – were far more diverse in foreland basins adjacent regions than in no-orogenic areas – carbonates platforms -, suggesting a link between orogeny and Ordovician radiation.

A radiação de vida marina Ordoviciana foi uma das mais diversas e significativas e coincide com uma época de intensa atividade orogênica. Foram avaliadas 6576 aparições de gêneros do Ordoviciano para que se pudesse entender a relação da biodiversidade com o ambiente tectônico (bacias foreland, zonas de transição e plataformas carbonáticas). O resultado mostra que os gêneros mais expressivos da época – Trilobitas, braquiópodes, bivalves, gastrópodes, etc. – estavam mais concentrados, mesmo que distantes, em regiões adjacentes as bacias foreland do que em áreas não orogênicas – plataformas carbonáticas -, trazendo hipóteses de que existe uma ligação entre a orogenia e a radiação da vida marinha Ordoviciana.

(Miller & Mao, 1995)

Ph: 1 PublicDomainPictures por Pixabay

Link do artigo:
https://pubs-geoscienceworld-org.ez27.periodicos.capes.gov.br/geology/article-lookup/23/4/305

Contribuitions: Matheus Castro

#thinsectionthursday

Rhander Taufner

Durante o espalhamento da crosta oceânica gabroica nas dorsais meso-oceânicas lentas e ultra-lentas, as zonas de cisalhamento em grande escala crustal acomodam a maioria dos movimentos das placas em falhas de descolamento. O fluxo de material fundido e fluidos quentes em profundidade ao longo dessas falhas produz fontes hidrotermais no assoalho oceânico, nas quais se acredita que os seres vivos mais primitivos tenham florescido. Se pudéssemos tirar uma foto do que acontece com a crosta inferior após períodos de espalhamento das placas, veríamos essas faixas finas de ultramilonito como essa na microfotografia, hospedadas em zonas de cisalhamento gabroico. A relação entre deformação, movimento da placa e migração de fluidos em profundidade pode ter desempenhado um papel crucial no desenvolvimento da vida primitiva na Terra, o que esse tema interessante que precisa ser mais investigado.

Amostra coletada no Atlantis Bank, sudoeste do Oceano Índico, durante o Programa de Descoberta do Oceano Internacional – Expedição 360 /

Sample collected at the Atlantis Bank, Southwestern Indian Ocean, during International Ocean Discovery Program – Expedition 360.

During tectonic spreading of the gabbroic oceanic crust at slow and ultra-slow mid-ocean ridges, large crustal scale shear zones accommodate most of the plate motions through detachment faults. The flow of molten material and hot fluids at depth along these faults produce hydrothermal vents on the ocean floor at which the most primitive living things are thought to have blossomed. If we could take a snapshot of what happens with the lower crust after periods of plate spreading, we would see these fine bands of ultramylonites such as this in the microphotograph, hosted in gabbroic shear zones. The feedback between deformation, plate motion and migration of fluids at depth, might have played a crucial role on the development of primitive life on Earth, which makes it an interesting topic that needs to be further investigated.

Colunas e disjunções prismáticas em lavas basálticas

As disjunções colunares são fraturamentos prismáticos que ocorrem em basaltos ou em outros tipos de rochas ígneas e são resultados do processo de resfriamento do magma.

Devido à diferença de temperatura entre a lava e a rocha encaixante (ou ar), ocorre um resfriamento acelerado, de fora para dentro do derrame. Esse resfriamento é responsável pela cristalização e contração do basalto, que resulta nas diaclases frequentemente hexagonais, que podem também apresentar padrões irregulares ou poligonais com menos ou mais lados. A presença de basaltos colunares serve também para descobrir para qual direção a lava fluía, uma vez que se formam perpendicularmente à esta direção. Na figura, um dique de basalto colunar formado em torno de um lago de lava. A inclinação quase horizontal das colunas indica que o fluxo era vertical, de baixo pra cima, e desta forma este dique provavelmente representa o conduto que ligava a câmara magmatica profunda ao lago de lava na superfície. No posto tem exemplos dessas estruturas no Triângulo Mineiro (foto 1, 2, 3, 7 e 8) e no Arquipélago Fernando de Noronha (fotos 4, 5, 6 e 9)

Confira mais sobre os basaltos no Triângulo Mineiro em Pacheco et al. (2018) – Basaltic ring structures of the Serra Geral Formation at the southern Triângulo Mineiro, Água Vermelha region, Brazil (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0377027317303839)

Prismatic columns and disjunctions in basaltic lavas

Columnar disjunctions are prismatic fractures that occur in basalt (photo) and in other types of igneous rocks and are the result of the magma cooling process.

Due to the temperature difference between the lava and the embedding rock (or air), there is an accelerated cooling, from outside to inside the spill. This cooling is responsible for the crystallization and contraction of basalt, which results in diaclases that are often hexagonal, which can also present irregular or polygonal patterns with fewer or more sides. The presence of columnar basalts also serves to find out which direction the lava flowed, since they are formed perpendicular to this direction. In the figure, a columnar basalt dike formed around a lava lake. The almost horizontal slope of the columns indicates that the flow was vertical, from the bottom up, and thus this dike probably represents the conduit that connected the deep magmatic chamber to the lava lake on the surface. The photos in the post are Brazilian examples of this structures in Triângulo Mineiro – MG (photos 1, 2, 3, 7 and 8) and Fernando de Noronha Archipelago (photos 4, 5, 6 and 9).

Check out more about this rocks from Triângulo Mineiro in Pacheco et al. (2018) – https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0377027317303839 – Basaltic ring structures of the Serra Geral Formation at the southern Triângulo Mineiro, Água Vermelha region, Brazil.

Where are these incredible landscapes?/ Onde ficam essas paisagens incríveis?

(English below)

Nasa/Elderfox documentaries
Nasa/Elderfox documentaries
Nasa/Elderfox documentaries
Nasa/Elderfox documentaries
Nasa/Elderfox documentaries
Nasa/Elderfox documentaries
Nasa/Elderfox documentaries
Nasa/Elderfox documentaries

Por mais que pareçam familiares, as imagens são de locais onde ser humano algum jamais pisou. Tratam-se de mosaicos realizados em resolução 4k de fotos tiradas pelos rovers de exploração de Marte.

O rover Curiosity, que explora atualmente a superfície do planeta, tem dentre diversos instrumentos científicos um espectrômetro do tipo quadrupolo, do tamanho de um forno microondas, acoplado. Há alguns anos atrás, ele realizou as primeiras datações de rochas feitas inteiramente fora do planeta Terra, direto na superfície de Marte, pelo método K-Ar de argilitos lacustres antigos, com idades entre 3,86 e 4,56 bilhões de anos. As fotos obtidas pela Curiosity mostram sem sombra de dúvidas que houve água em estado líquido na superfície de Marte (com evidências como por exemplo rochas de granulação fina, do tipo argila, com gretas de contração típicas de ambientes úmidos quando expostos) e a datação permite inferir quando foi que isto aconteceu. Grandes questões surgem em seguida, por exemplo, como foi que Marte deixou de ser esse mundo tão parecido com a Terra e se transformou na paisagem árida que vemos hoje?

Quais outras lições podemos aprender com o planeta vermelho? O rover mais recente, Perseverance, vai ser lançado dia 30 de Julho e dentre outras maravilhas tecnológicas leva o helicóptero Ingenuity, que vai tornar muito mais fácil rodar por Marte sem ficar preso na areia e pedras. O que as suas experiências científicas literalmente realizadas em outro mundo poderão nos revelar? Será que para criar e manter vida é preciso que um planeta tenha tectônica de placas ativa, como a Terra, gerando montanhas e oceanos que controlam as condições de oxigenação e de quantidade de nutrientes para a vida triunfar?

Podemos entender muito melhor nosso próprio planeta ao olhar para instantâneos de como ele poderia ter sido no passado e do que ele poderia ter se tornado caso tivesse seguido outro caminho, como vemos em Marte – e o que podemos fazer para evitar que nosso próprio mundo se torne também um planeta árido.

@nasajpl
Fotos: Elderfox documentários

As familiar as they seem, the images are of places where no human being has ever stepped. These are mosaics made in 4k resolution of photos taken by Mars exploration rovers.


The Curiosity rover, which currently explores the planet’s surface, has among several scientific instruments a quadrupole-type spectrometer, the size of a microwave oven, coupled. A few years ago, it performed the first dating of rocks made entirely off planet Earth, directly on the surface of Mars, by the K-Ar method of ancient lake rocks, aged between 3.86 and 4.56 billion years. The photos obtained by Curiosity clearly show that there was liquid water on the surface of Mars (with evidence such as, for example, fine-grained, clay-like rocks, with contraction cracks typical of humid environments when exposed) and dating tells when this happened. Big questions then arise, for example, how did Mars stop being that world so much like Earth and became the arid landscape we see today?


What other lessons can we learn from the red planet? The most recent rover, Perseverance, will be launched on July 30th and among other technological wonders it takes the Ingenuity helicopter, which will make it much easier to travel around Mars without getting stuck in the sand and rocks. What can the scientific experiments literally carried out in another world reveal to us? Is it necessary to create and maintain life that a planet must have active plate tectonics, like Earth, generating mountains and oceans that control the conditions of oxygenation and the quantity of nutrients for life to triumph?

MAGMATIC BARCODES HELP TO RECONSTRUCT ANCIENT SUPERCONTINENTS! / CÓDIGO DE BARRAS MAGMÁTICO AJUDA A RECONSTRUIR ANTIGOS SUPERCONTINENTES!

In this new article, the results of a study of high spatial precision dating using ionic microprobe of dykes of the southern São Francisco craton are presented.


Mafic dykes are very important as they are excellent temporal and spatial markers of magmatic, tectonic and basin opening events. They usually form swarms of defined orientation that extend for several kilometers in the Earth’s crust, and when they crystallize they record information about the Earth’s magnetic field at the moment they were placed, and thus are essential in paleomagnetic and paleocontinent reconstruction studies.


By studying the various swarms of each fragment of the ancient crust or cratons, we can build a “barcode” for this piece of crust and compare it with that of other pieces around the world. If the bar codes are similar, then it is possible that these fragments have been together in the past.

The data collected suggests an increasingly well-defined link between the São Francisco craton of Minas Gerais and Bahia, Brazil, and the northern China craton between 2.55 billion and 900 million years ago, suggesting that Minas walked closely with China until they separated in this time. These two “lovers” may also have been part of greater supercontinents such as Columbia and Rodinia.

(Versão em português)

Neste novo artigo, os resultados de um estudo de datação de alta precisão espacial usando microssonda iônica de diques do sul do cráton São Francisco são apresentados.

Diques máficos são muito importantes pois são excelentes marcadores temporais e espaciais de eventos magmáticos, tectônicos e de abertura de bacias. Eles formam normalmente enxames de orientação definida que se estendem por vários kms na crosta terrestre, e quando cristalizam guardam consigo informações sobre o campo magnético da Terra no momento em que se colocaram, e desta forma são essenciais em estudos paleomagnéticos e de reconstrução de paleocontinentes.

Através do estudos dos diversos enxames de cada fragmento de crosta antiga ou cráton, podemos construir um “código de barras” para este pedaço de crosta e comparar com os de outros pedaços ao redor do mundo. Se os código de barras são semelhantes, então é possível que estes fragmentos estiveram juntos no passado.

Os dados coletados sugerem uma ligação cada vez mais bem definida entre o cráton São Francisco de Minas Gerais e Bahia e o cráton do Norte da China entre 2.55 bilhões e 900 milhões de anos atrás, sugerindo que Minas andou juntinho com a China até se separarem nessa época. Esses dois “namorados” podem ter ainda feito parte de grandes configurações supercontinentais antigas como Columbia e Rodinia.

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0024493720303455

PILLOW LAVAS, BLUESCHISTS AND OTHER ANCIENT OCEANIC ROCKS / LAVAS EM ALMOFADA, XISTOS AZUIS E OUTRAS ROCHAS OCEÂNICAS ANTIGAS

Pillow Lavas at Angel Island. Photo by F. Caxito.
Blueschist layer within metabasalt at Angel Island. Photo by F. Caxito.
Basalt clast within serpentine breccia at Angel Island. Photo by F. Caxito.
Sheared contact between serpentinite and metabasalt at Angel Island. Photo by F. Caxito.
Asbestos in serpentinite at Angel Island. Photo by F. Caxito.
Sheared contact between serpentinite and metabasalt at Angel Island. Photo by F. Caxito.
Sheared contact between blueschist and pillowed metabasalt at Angel Island. Photo by F. Caxito.
Blueschist layer within metabasalt at Angel Island. Photo by F. Caxito.

Angel Island, San Francisco Bay, is one of the most geologically interesting places, with pilllow basalts, blueschists and serpentinites and wackes.

These rocks have been scraped from the subducting plate and represent remnants of a Jurassic oceanic crust, now completely tectonically mixed, in what is called mélange (mixture in French).

The Franciscan mélange was formed in a subduction zone responsible for the formation of the Sierra Nevada arc, further east, now inactive. More than 100 million years later, tectonics of the western North American continent, whose master structure is the San Andreas fault, has raised the accretionary prism above sea level, and that is why today we can observe these rocks in Angel Island. The pillow basalts are part of the upper oceanic crust; serpentinites are pieces of the mantle; and the blue shales represent rocks that went down to enormous depths in the subduction zone, under enough pressure to form minerals such as the blue amphibole glaucophane and lawsonite.

Angel Island, na baía de San Francisco, Califórnia, é um dos lugares geológicos mais interessantes, com grauvacas, basaltos almofadados, xistos azuis e serpentinitos.

Essas rochas foram raspadas da placa subductante e representam remanescentes de uma crosta oceânica jurássica, agora completamente misturados tectonicamente em lascas por falhas, no que é chamado de mélange (mistura em francês).

A mélange Franciscana formou-se numa zona de subducção responsável pela formação do arco de Sierra Nevada, mais à leste, hoje inativo. Mais de 100 milhões de anos depois, a tectônica na margem oeste do continente norte americano, cuja estrutura mestre é a falha de Santo André, soergueu o prisma acrescionario acima do nível do mar, e por isso hoje podemos observar essas rochas. Os basaltos com almofadas são parte da crosta oceânica superior; os serpentinitos são pedaços do manto; e os xistos azuis representam rochas que desceram a enormes profundidades na zona de subducção, sob pressão suficiente pra formar o anfibólio azul glaucofana e lawsonita.

Photos @fabriciocaxito

#ophiolite #pillowlava #blueschist